17 de fevereiro de 2017

A Casa


Há dois anos, quando estive doente, tive durante várias noites seguidas o mesmo sonho, disse ela. Passeava no campo: percebia ao longe, uma casa branca, baixa e longa, cercada por um bosque de tílias. À esquerda da casa havia um grupo de álamos que quebrava artisticamente a simetria do cenário, e o topo das árvores que se percebia ao longe balançavam por cima das tílias. 
No meu sonho, sentia-me atraída por aquela casa e me dirigia para ela. Uma barreira pintada de branco fechava a entrada. Adiante se seguia uma alameda cuja curva tinha bastante graça. Essa alameda era bordada de árvores sob as quais encontrei as flores da primavera: primaveras, anêmonas, que murchavam logo que eu as colhia. A alameda desembocava poucos passos antes da casa. Diante desta, estendia-se um grande gramado. Só havia ali algumas florinhas arroxeadas. 
A casa, construída com pedras brancas, tinha telhado de ardósia. A porta, de carvalho bem claro, era numa pequena varanda. Eu desejava visitar aquela casa, mas ninguém respondia ao meu chamado. Ficava terrivelmente desapontada, batia, gritava, mas ninguém me atendia. 
Era assim o sonho que se repetiu durante longos meses com uma precisão e uma fidelidade únicas. Acabei pensando que havia visto em minha infância aquela casa e aquele parque. Entretanto, ao acordar não podia me lembrar e essa procura tornou-se, para mim, uma obsessão tão forte que certo verão, tendo aprendido a guiar um pequeno veículo, decidi passar minhas férias nas estradas de França, tentando descobrir a casa de meu sonho. 
Não lhe contarei minhas viagens. Explorei a Normandia, o Poitou, a Touraine: nada encontrei e, na verdade, isso não me surpreendeu muito. Em outubro voltei a Paris, e durante todo o inverno continuei a sonhar com aquela casa branca. Na primavera recomecei meus passeios pelas vizinhanças de Paris. Certo dia, quando atravessava um vale perto de Isle Adam, senti subitamente um choque agradável. Essa emoção curiosa que se experimenta quando se reconhece alguém depois de longa ausência. 
Se bem que nunca tivesse visitado aquela região, conhecia perfeitamente a paisagem que se estendia à minha direita. Cimos de alamos dominavam uma massa de tílias. Através da folhagem, ainda leve, espaçada, divisava-se a casa. Então eu soube que tinha encontrado o castelo de meus sonhos. 
Não ignorava que, cem metros mais adiante, um caminho cortaria a estrada. O caminho estava bem no lugar onde eu imaginara. Tomei-o. Levou-me a uma barreira branca. De lá partia a alameda que eu tinha seguido tantas vezes em sonho. Sob as árvores admirei o tapete de cores claras formado pelas flores. Quando saí da alameda, vi o gramado verde e a pequena varanda com a porta de carvalho bem claro. Desci do carro, subi rapidamente os degraus e toquei. 
Tinha medo que ninguém respondesse, mas, quase imediatamente, apareceu um criado. Era um homem de rosto triste bem velho e vestindo um paletó negro. Ao ver-me, pareceu muito surpreendido e olhou-me com atenção, sem falar. 
— Vou pedir-lhe um favor um pouco estranho, disse eu. Não conheço os proprietários desta casa, mas teria muito prazer se eles me permitissem visitá-la. 
— O castelo está para alugar, minha senhora, e eu estou aqui justamente para receber os visitantes. 
— Para alugar? Que sorte inesperada! Por que os proprietários não habitam uma casa tão bela?
— Os proprietários moravam aqui, madame. Deixaram a casa porque ela estava mal assombrada.
— Mal assombrada? Isso não me preocupa. Não sabia que nas províncias francesas se acredita ainda em fantasmas.
— Eu não acreditaria, madame, se não tivesse encontrado muitas vezes, à noite, a mulher que visitava o parque, a aparição que fez com que meus patrões fugissem.
— Que história! — disse eu rindo.
O velhinho me olhou com um ar de censura.
— A senhora não deve rir, uma vez que o fantasma de que eu falo era a senhora mesma!

Conto de André Maurois