Minha mãe tinha uma comadre, medium vidente, que mantinha um centro espírita em sua casa. Esta senhora viera morar em minha cidade, acompanhando o marido que era funcionário do Estado. Eram pobres e moravam num bairro muito distante do bairro em que minha família residia. Assim, só se viam muito raramente, quando havia sessões mediúnicas ou quando minha mãe a visitava, numa época em que o marido estava detido, como preso político, por ter participado do levante comunista dos anos 30 do século anterior.
Numa dessas visitas, a comadre disse à minha mãe que estava vendo uma mulher e um homem junto a ela. Ambos eram magérrimos, pálidos e tossiam muito. Ambos pareciam muito aflitos e tristes.
Em seguida, a comadre disse que a mulher, que chorava, estava pedindo que minha mãe intercedesse pelos filhos do casal, deixados com a minha avó materna. Pedia que o menino fosse tratado com mais carinho e cuidados, que não fosse tão castigado, pois ele estava sofrendo e triste por não se sentir amado. Que não o tratasse de forma tão diferente da que tratava a menina.
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Claro que a esta altura, minha mãe já entendera que se tratava dos espíritos de sua irmãa Maria de Lourdes e seu marido Heitor, ambos falecidos de tuberculose, deixando um casal de filhos.
Muito emocionada, minha mãe prometeu que falaria com a minha avó naquele mesmo dia. E assim fez, pois, de fato, minha avó era muito ríspida com o menino. Claro que minha avó ficou impressionada com o que a minha mãe lhe relatou, chorou e prometeu que tudo seria diferente dali por diante. E assim foi.
Passaram-se alguns meses e minha mãe voltou a visitar sua comadre. Mal começaram a conversar, esta disse que a mulher magra voltara, estava junto à minha mãe, trazendo uma menininha pela mão. Ela estava contente e queria agradecer à minha mãe o que fizera pelo menino, agora bem tratado e feliz.
Minha mãe pediu que a comadre perguntasse o nome da menininha. A resposta deixou-a emocionadíssima: "ela tem o mesmo nome que eu", respondeu a entidade. Nisto, a comadre fez uma observação que confirmou a verdade daquele fenômeno mediúnico: "é curioso, a menininha está com a camisolinha toda molhada nas costas".
Só então, minha mãe contou à comadre que as duas eram suas irmãs e realmente tinham o mesmo nome: Maria de Lourdes.
A pequenina nasceu, enquanto a mais velha morria no quarto vizinho ao quarto em que minha avó dava a luz. Morreu chamando por minha avó, que escutava seus chamados sem poder atendê-la. Para homenagear a filha morta, foi dado seu nome à recém-nascida.
A pequenina morreu com 4 anos de idade, após ter caído sentada em um tacho de mel fervendo, que a criada pusera para esfriar no chão da cozinha. Daí o detalhe da camisolinha molhada, por causa das queimaduras.
Vale salientar que a comadre ignorava esses fatos. Sempre que minha mãe contava esse acontecimento mediúnico, esse contato com sua irmã (a sua preferida) ficava emocionada.
Havia uma coincidência fatal e triste ligando as duas Maria de Lourdes, além do fato de uma ter nascido, enquanto a outra morria. É que a menininha morreu, também, chamando por minha avó, da mesma forma que fizera a sua irmã mais velha. Coincidência? Ou haverá outra explicação que nosso entendimento limitado não consegue alcançar?
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