15 de julho de 2012

Viagem Astral


A experiência que passo a relatar ocorreu cerca de um ano após o falecimento do meu segundo marido, de quem eu sentia uma imensurável saudade e um intenso desejo de vê-lo, nem que fosse em sonho. Sou espírita e, portanto, sei que não sou médium vidente nem auditiva. Assim, não tinha esperanças de ver o seu espírito. O tipo de mediunidade que tenho é apenas a que me permite momentos de desdobramentos e, quando freqüentava sessões de mediúnicas, psicografava e chegava perceber a presença de espíritos, em minha mente, com clareza suficiente para descrever suas fisionomias, trajes e ambiente em que viviam. Como me assustavam esses fenômenos, preferi deixar de participar em tais reuniões.
Pelas minhas lembranças da infância e juventude, acredito que o fenômeno do desdobramento (ou viagem astral) aconteceu várias vezes, sem que eu tomasse consciência do que estava me acontecendo. A primeira vez que me veio a consciência de que foi numa tarde em que, deitada no assoalho da sala, tentava relaxar a coluna que estava dolorida. De repente, vi-me em um lugar desconhecido, muito bonito, arborizado como se fosse um imenso parque. Eu caminhava sobre uma espécie de passarela que separava o enorme parque ajardinado em duas partes. Do lado direito, o piso era recoberto com uma grama verde escuro e tinha árvores frondosas de uma espécies que nunca vira antes, da mesma forma que não reconheci as plantinhas floridas que compunham os canteiros situados do lado esquerdo. Eu me via de pés descalços, trajava uma roupa longa de tonalidade azul, de tecido leve com discreta transparência e sentia algo no meio das costas que me parecia uma trança longa (eu tenho os cabelos curtinhos). A passarela longa fazia uma curva para a esquerda. Curiosamente o material que a revestia era diferente de qualquer um que conhecia: eram lajotas quadradas, como se fossem feitas de vidro azulado, com uma luminosidade opaca linda. De início eu prestava atenção aos detalhes que descrevi, Quando levantei a vista para a frente foi que percebi a curva da passarela, as árvores que formavam um extenso bosque e, a esquerda do terreno, uma construção baixa, de cor rosa, de onde se podia ouvir ruídos de vozes. Mas, o que me chamou mais atenção foi a presença de um homem, de costas, trajando um terno cinza, de cabelos grisalhos na altura do ombro, que pintava numa tela, com moldura dourada, o busto de uma mulher, certamente de memória, pois não havia nenhuma modelo pousando.

Pude ver que havia pendurados nas árvores próximas a ele vários quadros pintados com a mesma imagem feminina que estava pintando, vestida com trajes do século XIX. O vestido era cor de melão, com mangas bufantes, ornada com a mesma renda que rodeava o decote, rematada com um arranjo de flores, igual ao que havia no chapeuzinho de palhinha, preso por uma fita vermelha, da qual esvoaçavam duas pontas do lado esquerdo. Era uma linda e jovem mulher. Do lado direito, estavam pendurados nas árvores, várias cópias de uma mesma fotografia que retratava um casal de meia idade, sorridentes e se olhando nos olhos: Era ele com os mesmos cabelos grisalhos e uma mulher de meia idade, bonita e feliz.
Emocionada, dei-me conta que aquele homem, que nem me estava vendo, era o meu falecido marido.. Nesse momento tentei apressar o passo para chegar perto dele e poder dar o abraço de despedida que sua morte súbita não ensejou. Fiquei ansiosa para falar com ele... Apressei mais o passo... Mas, de repente, uma espécie de campo de força, potente e invisível, impediu que eu prosseguisse. Por mais que eu tentasse, não conseguia atravessar aquela barreira invisível.
Contudo, estava próxima dele o suficiente para ver que estava acabando de pintar mais um retrato da mesma mulher jovem trajada à moda antiga.

Ele olhava para a tela enquanto com um pano branco na mão esquerda, limpava os 3 pinceis que usara, enquanto repetia o nome da mulher retratada, de forma bem audível e pausada, como quem acha o retrato tão exatamente igual à imagem guardada na memória, que a chama como se viva e acessível fosse: -“BIA... BIA... BIA...

A mulher de meia idade do quadro em que está com ele, e a mulher jovem vestida à moda antiga são a mesma pessoa em épocas diferentes: EU MESMA...   BIA era como ele me chamava...  




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