O Dr. Perón Autret advertia em seu livro. "Os enterrados vivos", acerca do possibilidade de alguém ser enterrado vivo, vitima da morte aparente, causada por uma crise de catalepcia.
Conhecedor da tese do médico francês, o Dr. Milton R. Dantas, que durante muitos anos foi Diretor do Instituto Médico Legal, na cidade de Natal – RN, recorda a tragédia do seu amigo J. G. A, vítima de um choque elétrico que o deixou aparentemente morto.
Durante o velório, sentado ao lado do ataúde, o dr Milton surpreendeu-se com a viúva enxugando, com freqüência, a testa úmida do marido. Discretamente, sem despertar curiosidade, ele lhe toma o pulso e verifica-lhe a temperatura. Não percebeu nenhuma pulsação, no entanto o corpo não estava frio nem a pele apresentava-se cerosa com a característica cor cadavérica.
Sem confessar a suspeita, sugere à desolada esposa a conveniência de adiar o sepultamento, em vez de fazê-lo às 17h, como estava programado. E o enterro só foi realizado na manhã seguinte. Três anos depois, ela manda retirar os restos mortais do marido.
O coveiro, ao levantar a tampa do caixão, surpreendentemente, torna a fechá-lo. Exige a presença do médico legista. Coincidentemente o Dr. Milton encontrava-se no cemitério, como o fazia diariamente na sua condição de médico verificador de óbitos. Levantando a tampa novamente, ele olhou para o interior do caixão. E o que viu nunca mais pôde esquecer. O amigo, a quem visitara durante o velório, encontrava-se emborcado, vestido com o mesmo terno azul ainda em perfeito estado.
O coveiro, com a sensibilidade embotada pela natureza do seu trabalho, volta-se para a viúva e, rudemente, lhe declara apontando para o túmulo vazio.
- Minha senhora, o seu marido morreu aqui dentro.
Autor: José de Anchieta Ferreira, Histórias que não estão na História- RN Gráfica e Editora Ltda.
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