29 de abril de 2016

O relatório dos mortos


O sinistro caso de três pilotos dos aviões bombardeiros Douglas DB-7 Boston que, após uma missão de bombardeiro às defesas alemãs durante a segunda guerra, voltaram para a base com terror impresso em suas faces. O marechal que os recebeu, mandou que eles fizessem logo seu relatório e depois os dispensou para irem descansar e tomar uma cerveja.

Minutos depois o Marechal recebeu a noticia que esses pilotos haviam morrido na tal missão. Esse caso é muito interessante, pois ele deixou provas físicas da manifestação dessas três almas atormentadas, que mesmo depois de mortos redigiram o relatório que continha a forma como morreram na missão.

O caso ainda é um mistério até hoje, pois de forma alguma eles poderiam estar ali, sendo que já haviam morrido horas antes, durante a batalha, muito menos, redigir exatamente o que ocorreu na batalha. A única explicação cabível é que três sósias tomaram o lugar dos pilotos…. porém, em matéria de “hipóteses” essa é ainda mais absurda que a primeira e não leva em consideração de que os sósias teriam que estar presenciando a batalha para saber o que havia ocorrido lá.
Arrepiante, não é mesmo?

26 de abril de 2016

O mal assombrado Castelo de Chillingham


O Castelo de Chillingham é amplamente considerado como um, se não, o lugar mais assombrado da Inglaterra. Tendo mais de 800 anos, o castelo foi construído com um único propósito e um propósito apenas; matar. No coração de Northumberland, o castelo era a primeira linha de defesa, prevenindo os escoceses de chegar a fronteira para invadir a Inglaterra. Ela tem uma verdadeiramente incrível, ainda horrível, história, e por isso é um dos lugares mais mal-assombrados do mundo.
O calabouço é um pequena sala com marcas riscadas na argamassa aonde prisioneiros contavam quantas dias ainda tinham para viver. Eles podiam esperar ter seus braços e pernas quebrados antes de serem jogados 6m abaixo num buraco conhecido como o Oubliette e deixado para morrer, ou por inanição ou pelos ferimentos. Algumas vezes prisioneiros começariam a comer pedaços da carne de outros e até dos seus próprios corpos numa tentativa em vão de prolongar suas vidas. É documentado que se você olhar para baixo através da grelha cobrindo o Oubliette é possível ver os restos de uma jovem garota olhando de volta para você. Esses são os restos da última pessoa morta ali. Muitas pessoas experiênciaram coisas aqui, Orbs tem sido visto e fotografados e algumas pessoas efetivamente sentiram as emoções que a sala emana. A sala tem uma atmosfera depressiva.
Logo a frente há a Câmara de Tortura, praticamente todos os dispositivos de tortura estão em perfeito funcionamento e cada um é tão doentio e cruel quanto os outros. O chão é em forma de declive, assim o sangue naturalmente cai e se concentra para um lado do cômodo. Para milhares de Escoceces, esse foi o último lugar que eles viram. O carrasco aqui era um homem conhecido como John Sage, e ele era uma grande celebridade do seu tempo. Antes de se tornar torturador ele era um dos melhores homens em campo de batalha do Rei Edward. Sage foi ferido um dia, enquanto lutava, sua perna foi ferida e ele não pode mais lutar. Ele implorou para que Edward o mantesse em alguma ocupação e assim ele foi dado o papel de carrasco do castelo. Sage era um homem brutal, ele odiava os escocêses e ele adorava o seu papel, até desenvolvendo alguns dispositivos de tortura ele mesmo.
Há um pote para líquidos ferventes, aparelhos para retirar os olhos, barris cheio de espinhos que teriam prisioneiros amarrados dentro e rolados pelo chão até que a pele era rasgada do corpo e morriam em extrema agonia. Haviam tubos que eram enfiados no estômago de prisioneiros e um rato faminto seria colocado dentro, e a única forma para o rato sair era abrir o seu caminho por dentro da vítima, comendo-o as entranhas. Algumas coisas que os prisioneiros tiveram que aguentar nas mãos desse homem eram inimagináveis. Sage torturava mais de 50 pessoas por semana pelos três anos que ele manteve o trabalho. Há muitas máquinas de tortura em exposição. O guia nos disse que ele nunca vem aqui sozinho, por causa que ele já sentiu uma presença malevolente aqui em mais de uma ocasião.
Como a guerra com os Escoceses estava chegando ao fim, John Sage queria se livrar de todos os escoceses prisioneiros do castelo, então ele juntou todos os homens, mulheres, e adolescentes, levou-os ao pátio e colocou todos numa enorme fogueira. As crianças eram mantidas no quarto de Edward e provavelmente poderiam ver seus parentes serem queimados vivos, eles ouviam os gritos e sentiam o cheiro de carne queimando. Sage sabia que se soltasse as crianças elas voltariam quando adultas para buscar vingança. Então, ele pegou um pequeno machado e foi até o quarto de Edward e brutalmente esquartejou todas as crianças, algumas tão novas como um ano de idade, em pedaços. O machado pode ser visto hoje em dia na parede da escada. O quarto de Edward é um dos mais visitados e as pessoas frequentemente dizem que elas vêem o lustre do teto se mecher sem ser movido. O quarto tem um cheiro imundo e uma estranha atmosfera.
Na câmara de tortura também há um Rack. Sage tinha uma namorada, Elizabeth Charlton, e uma noite, eles faziam sexo no rack quando Sage começou a estrangula-la para aumentar o seu prazer sexual, infelizmente ele foi muito longe e acabou matando-a. O pai de Elizabeth era um membro do Border Reivers, um grupo de líderes tribais e foras-da-lei. Não eram o tipo de pessoas com quem se meter, e claro, eles queriam Sage executado.
Os Border Reivers era uma poderosa organização que comandava um vasto, altamente habilidoso e experiente exército. É registrado que os Reivers se encontraram com Edward Longshanks e o alertou que se ele não executasse Sage eles se uniriam aos Escocêses e lançariam um ataque massivo ao castelo. Nessa época os Escocêses provavelmente ganhariam com o apoio dos Border Rivers.
Como Edward estava virtualmente sem um tostão devido a guerra com os Escocêses, ele foi forçado a chamar Sage para ser executado. Sage foi capturado e pendurado para ser enforcado na frente de uma multidão enorme, no solo do Castelo de Chillingham. Enquanto ele sufocava, a multidão começou a pegar souvenirs, cortando dedos, testículo e nariz do mesmo ainda vivo. Não se sabe o quão longo Sage permaneceu pendurado vivo mutilado antes de morrer. O fantasma de John Sage tem sido visto vagando pelo castelo por muitas pessoas. Outros alegam ter ouvido barulhos de passos seguidos por som de alguém arrastando algo

Ainda falta mais umas parte com alguns outros cômodos e histórias do castelo

25 de abril de 2016

A Caixa


       
O pacote foi deixado ao lado da porta da frente: um cubo de papelão fechado com fita adesiva, nome e endereço escritos à mão: SR. E SRA. ARTHUR LEWIS, 217 E. 37th Street, Nova York, Nova York 10016.
Norma recolheu o pacote, abriu a porta e entrou no apartamento. A noite estava caindo. Depois que colocou as costeletas de cordeiro para assar, preparou para si mesma um drinque e sentou-se para abrir o pacote. Dentro dele havia uma pequena caixa de madeira equipada com um botão de comando. Esse botão era protegido por uma redoma de vidro. Norma tentou levantá-la, mas estava firmemente presa. Ao virar a caixa ao contrário, viu um pedaço de papel dobrado, preso ao fundo dela. Ela o puxou: "O Sr. Steward vai se apresentar a vocês às oito da noite".
Norma colocou a caixa ao lado dela no sofá. Tomou um gole da bebida e releu o bilhete datilografado, sorrindo. Alguns momentos depois, voltou para a cozinha para preparar a salada. A campainha tocou às oito horas.
— Eu atendo — gritou Norma da cozinha.
Arthur estava lendo na sala de estar. Havia um homem baixo no corredor. Ele tirou o chapéu quando Norma abriu a porta. — Sra. Lewis? — ele perguntou educadamente.
— Sim?
— Sou o Sr. Steward.
— Oh, sim — Norma reprimiu um sorriso, pois tinha certeza agora de que se tratava de uma estratégia de vendas.
— Posso entrar? — perguntou o Sr. Steward.
— Estou bastante ocupada — disse Norma. — Mas vou pegar o seu objeto misterioso. Começou a se virar.
— Você não quer saber o que é?
Norma voltou. O tom do Sr. Steward havia sido ofensivo.
— Não, não quero — disse ela.
— Poderia ser muito valioso — disse ele.
— Monetariamente? — disse ela, em tom de desafio.
Steward assentiu:
— Monetariamente — disse ele.
Norma franziu a testa. Não gostava da atitude do visitante.
— O que você está tentando vender? — perguntou ela.
— Não estou vendendo nada — respondeu ele.
Arthur veio da sala.
— Algo errado?
O Sr. Steward se apresentou.
— Ah, aquele treco — apontou para a sala e sorriu.
— O que é aquilo, afinal?
— A explicação não vai tomar muito do seu tempo — respondeu o Sr. Steward. — Posso entrar?
— Se estiver vendendo alguma coisa... — disse Arthur.
Steward balançou a cabeça.
— Não estou.
Arthur olhou para Norma.
— Você que sabe — ela disse.
Ele hesitou.
— Bem, por que não? — respondeu ele.
Entraram na sala e Steward sentou-se na poltrona de Norma. Ele mexeu nos bolsos e retirou um pequeno envelope lacrado.
— Aqui dentro está a chave para abrir a redoma que protege o botão — disse ele, colocando o envelope na mesinha ao lado da poltrona. — Esse botão está conectado ao nosso escritório.
— Para que serve? — perguntou Arthur.
— Se você apertar o botão — disse Steward —, em algum lugar do mundo, alguém que você não conhece morrerá. Em troca, vai receber um pagamento de cinquenta mil dólares.
Norma olhou atônita para o homenzinho. Ele estava sorrindo.
— Do que está falando? — Arthur lhe perguntou.
O Sr. Steward pareceu surpreso:

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18 de abril de 2016

Sonhos Premonitórios de Aberfan


Um dos piores desastres na história britânica aconteceu no País de Gales, no dia 21 de outubro de 1966, quando uma enorme avalanche de carvão soterrou a escola na pequena cidade mineira de Aberfan. Mais de 140 pessoas, inclusive 128 crianças, morreram.
Durante as semanas que se seguiram, ficou cada vez mais evidente que algumas das crianças, bem como outras pessoas em toda a Inglaterra, haviam previsto a tragédia. Na realidade, 35 desses casos foram coletados por J. C. Barker, psiquiatra inglês. Um de seus informantes foi a mãe de uma criança soterrada. Ela contou a Barker que, um dia antes do desastre, a filha de repente começou a falar da morte, explicando que não tinha medo de morrer. Ficou perplexa com aquela estranha conversa, porém não percebeu o significado das observações posteriores, relativas a um sonho estranho que a filha tivera.
- Sonhei que fui à escola - declarou a filha -, só que não havia nenhuma escola. Alguma coisa preta descera sobre ela.
Nem mesmo a menina conseguiu reconhecer que o sonho era uma advertência, e foi à escola no dia seguinte. Duas horas depois, estava morta.
Uma mulher de meia-idade de Plymouth, Inglaterra, também tivera premonições a respeito dessa tragédia.
- Na verdade, eu "vi" o desastre uma noite antes do acontecimento - relatou -, e, no dia seguinte, eu contara o sonho à vizinha, antes mesmo da transmissão da notícia. Primeiro, eu "vi" uma velha escola localizada em um vale, depois um mineiro galês e, por último, a avalanche de carvão rolando pela encosta da montanha. No sopé dessa montanha havia um menino com longa franja, com muito medo de morrer.
Então, durante algum tempo, eu "vi" o trabalho das operações de resgate. Tive a impressão de que o menino não morreu e foi salvo.
Dos muitos casos coletados pelo dr. Barker, a maioria referia-se a sonhos simbólicos, ocorridos uma semana antes da tragédia.

Fonte: Livro «O Livro dos Fenômenos Estranhos» de Charles Berlitz


9 de abril de 2016

O Filho Morto


Quando Luiz morreu, minha esposa ficou em choque por dias. Talvez eu não tenha sido tão afetado quanto ela pelo simples fato que, quando algo como isto ocorre, alguém tem de manter o equilíbrio. Se todos desabam, que rumo resta a ser tomado? Ou talvez eu apenas não tivesse assimilado a desgraça, fingindo que tudo continuava como antes.

À noite, enquanto Tatiana permanecia no quarto, sedada, eu me levantava e ia até o quarto de Luiz, ler histórias para ele dormir. Apesar da cama vazia, eu tinha a plena sensação de que ele estava ali, rindo das fábulas, as pálpebras pesadas, lutando contra o sono.
A culpa que Tatiana alimentava não era de todo infundada, Luiz estava com ela quando tudo ocorreu, cruzavam a rua, o sinal aberto para os carros, mas Tatiana jura que não havia perigo. Luiz deixou cair a chupeta, sua mãozinha se soltou da de Tatiana, e ele voltou para buscá-la.
Nenhum pai deveria passar pelo que passei, ir ao necrotério e ver o pequeno corpo do filho estraçalhado, crânio esfacelado, rosto desfigurado, quase nenhum osso intacto, após ter sido atropelado por um ônibus. Nenhum!
E tantas memórias surgem naquele momento, entre aqueles segundos em que a porta se abre e, num relance, já se pode ver o corpo embalado num saco preto, e torcendo para que, quando o médico abrisse o zíper, fosse o filho de outro, fosse uma outra criança de três anos, dominado por este egoísmo que nos faz esquecermos de que as outras pessoas também sofrem. Mas não era o filho de outro, não era um Pedro, nem um João, era o meu Luiz, quase irreconhecível com o rosto ocultado pela crosta de sangue coagulado. E as memórias nos afogam, retornando ao primeiro instante, Tatiana me ligando no celular, choro de alegria na voz, mal articulando a simples frase “Você vai ser papai!”, o coração batendo mais forte e, contagiado pela alegria dela, choramos juntos pelo telefone, e como nos maravilhávamos ao vermos aqueles borrões do ultra- som que insistiam em dizer que era o coraçãozinho do bebê, o pintinho dele, ele chupando o dedo, e a angústia do parto, todo aquele sangue saindo da minha mulher, e aquela criatura cabeçuda, enrugada, chorando e tremendo, e as recordações das primeiras noites, nós embasbacados, postados ao lado do berço, admirando o ser que havíamos concebido, e o primeiro sorriso, as primeiras palavras, o engatinhar, os primeiros passos. Tudo encerrado ao se abrir o zíper, Luiz morto; não, não era o filho de outro.
Tatiana foi para a casa da mãe. Eu estava encarregado da triste tarefa de retirar os pertences de Luiz de casa, dá-los a alguém, jogá-los fora, qualquer coisa. Mas não consegui, ao abrir a porta, vi Luiz sentado na cama, pernas balançando, olhinhos brilhando:
— Vamos brincar, papai?
Passei a tarde brincando com Luiz, mesmo sabendo que o corpo dele estava na casa funerária, sendo preparado para o velório, mesmo sabendo que Tatiana estava devastada e que adoraria estar comigo agora, brincando com nosso filho.
Como eu poderia me livrar do quarto de Luiz, se ele ainda estava lá?
Tranquei o cômodo, todos os móveis dentro.
Minha esposa retornou para casa, ainda sob influência de calmantes.
Porém, durante a sedação, ela resmungava:
— Afonso, você está ouvindo? Você está ouvindo o riso de Luiz?
E eu acarinhava os cabelos dela, aquiescendo:
— É claro que sim, Tati, ele está no quarto dele, brincando.
Pois o cadáver de Luiz já havia sido sepultado, mas ele ainda estava conosco. O que era uma grande alegria para nós, mais do que mero consolo.
Aos poucos, Tatiana se recuperou e, ao invés de ir sozinho contar histórias para Luiz, agora Tatiana me acompanhava. Ficávamos até de madrugada, mesmo após Luiz ter adormecido, sentados na cama dele, admirando-o, agradecidos pela segunda chance que Deus nos havia dado.
No entanto, numa tarde, ao chegar em casa do trabalho, Tatiana estava sentada na cozinha, pernas unidas, mãos entrelaçadas, olhar desesperado.
— O que aconteceu? — perguntei.
— Algo não está certo... — Tatiana hesitava — algo não está certo com Luiz.
— Como assim?
Sem muita confiança, ela me pegou pelo braço e me levou até o quarto do nosso filho. Eu abri a porta, mas o clima alegre, pueril, que costumava predominar, havia desaparecido. O quarto estava na penumbra, um cheiro de carne apodrecida, e Luiz de pé, voltado para a parede, num dos cantos.
— Algum problema, Luiz? — gaguejei.
Ele se virou e todo meu corpo começou a tremer; aquele menino não era o Luiz que eu conhecia, pelo menos não aquele ao qual contei fábulas nas noites anteriores. O rosto estava magro e ressecado, o olhar fundo, os braços e pernas contorcidos, o crânio afundado.
— Vocês precisam me deixar ir embora — ele disse.
— Mas você não pode — gemi — Você é o nosso filhinho.
Sem sustentação dos membros fraturados, ele cambaleou até a cama e se deitou. Fiz menção de me aproximar, para cobri-lo com o lençol, mas ele me repeliu com um olhar de ódio.
— Não, — ele disse — eu quero ir embora. Meu verdadeiro pai me chama.
— Quem é o seu verdadeiro pai? — indaguei.
Os olhos de Luiz miraram um ponto ao pé da cama, instintivamente, eu também olhei pra lá e, por um segundo, tive a impressão que um vulto ou sombra estava de pé ali. Recuei para a porta.
— Mas não queremos que você vá, meu filho — Tatiana choramingava.
— Eu preciso — e, ao dizer isto, Luiz se virou da cama, insinuando que pretendia dormir.
Depois desta noite, eventos mórbidos passaram a nos atormentar. Até aquele momento, nosso filhinho nunca havia deixado seu quarto, mas, agora que ele queria partir, Luiz fazia questão de incomodar nossa rotina. Certa vez, enquanto eu tomava banho, ouvi um risinho do outro lado da cortina, e uma silhueta que se aproximava. Abri uma fresta, Luiz me encarava, tapava a boca, ria.
Noutra vez, Tatiana cozinhava, o som duma gaveta se abrindo. Era Luiz, faca afiada na mão, apontando para minha esposa:
— Posso te ajudar, mamãe?
Mas o pior foi quando eu e Tatiana fazíamos amor, ela sobre mim, olhos fechados, minhas mãos nos seios dela, e meus pelos todos se arrepiaram, senti a presença de alguém e avistei, nas sombras, num canto, o crânio afundado de Luiz. Brochei e, ao mesmo tempo, tomei uma resolução:
— Tatiana, precisamos nos livrar deste menino!
Naquela mesma noite, fomos ao quarto do Luiz e o informamos:
— Você nos pediu para o deixarmos partir. Pode ir, quando quiser.
Mas a resposta do nosso filho foi enigmática:
— Não é tão simples, papai. Vocês têm de me deixar ir.
Não entendemos. Desde a mudança de comportamento dele, tudo que mais desejávamos era que ele fosse embora, deixasse-nos em paz. Mas ele não ia, continuava nos pregando sustos, espionando-nos, abrindo gavetas e portas de armários.
A herança católica de Tatiana falou mais alto, ela correu para a igreja que não frequentava há anos e implorou auxílio ao padre. Este veio, passeou por nosso apartamento, requisitou entrada no quarto de Luiz, por fim, emitiu seu parecer:
— Não vejo nada de extraordinário aqui, minha filha. Isto não é obra de demônio.
Mas, mesmo assim, sob súplicas de Tatiana, ele concordou em benzer nossa casa, espargindo água-benta por todos os cômodos.
De nada adiantou, Luiz continuava lá e, agora, zombava de nossos esforços para nos livrarmos dele. Ele estava muito transformado, pouco recordava aquele menino doce que havia sido nosso filho, era apenas um ser diabólico, uma criatura deformada e irônica.
Após o padre, perfizemos uma sucessão de “profissionais” na área da paranormalidade, um médium espírita, um pai-de-santo, um pastor, mas ninguém conseguia nos ajudar.
Na TV, vimos um programa no qual aparecia uma mulher que dizia falar com os mortos, conversou ao telefone com telespectadores e revelou informações impressionantes sobre eles. Esta entrevista nos convenceu a ligarmos para esta mulher e a chamarmos para nos auxiliar com Luiz.
Ela veio, entrou sozinha no quarto e saiu dele assustadíssima
— Eu conversei com seu filho — ela nos disse — com o ser que um dia foi ele, quero dizer. Ele quer partir, mas vocês não deixam. Luiz está acorrentado a esta casa.
— O que devemos fazer? — eu me desesperava.
— Não é nada simples. Enquanto o corpo e a memória de Luiz ainda existirem, ele não partirá. Façam o que eu digo e tenho certeza de que tudo ficará bem.
Seguindo as indicações da médium, dirigi-me a uma casa de ferragens; em casa, Tatiana estava incumbida de esvaziar o quarto de Luiz, queimar as roupas deles e todos os objetos e brinquedos que lhe eram caros.
Para não ser apanhado, esperei anoitecer, pulei o muro do cemitério e, auxiliado por uma lanterna, encontrei o túmulo de Luiz. Com uma picareta, derrubei a abertura inferior do túmulo, retirando os tijolos. Avistei o caixãozinho dele e já podia puxá-lo para fora.
Ainda com a picareta, abri a tampa do caixão, revelando o esverdeado corpo apodrecido de Luiz, porém, eu estava tão acostumado com este aspecto dele, pois era assim que ele se manifestava a nós, que nem me impressionei. Abracei o cadáver e o tirei do esquife, jogando-o sobre um lençol, no qual o enrolei.
Reinseri o caixão vazio no túmulo, lancei o corpo embrulhado no ombro e me apressei a deixar o cemitério, arremessando Luiz por sobre o muro, secundando-o sem demora.
Dirigi por horas, até chegar a uma estrada de terra. Na madrugada, enveredei-me por uma trilha no matagal. Quando atingi um local que considerei seguro, estacionei e removi o cadáver do porta-malas.
Este seria o momento mais difícil, seguir passo-a-passo as prescrições da médium. Utilizando-me duma agulha para couro e um grosso barbante, costurei a boca de Luiz; em seguida, com um serrote, separei a cabeça do corpo; por fim, embebi o defunto em querosene e ateei fogo.
Levei muito tempo alimentando as chamas, até que os restos mortais se tornassem irreconhecíveis. Cavei uma cova com quase um metro de profundidade e sepultei Luiz. O sol estava nascendo. 
Voltei para casa arrebentado. Cheguei e fui direto para o quarto do Luiz, completamente vazio, as cortinas abertas, um local bem diferente, renovado, luminoso. Tomei um banho e fui me deitar, ronquei até, pelo que Tatiana me contou. Sentíamos bem, um peso havia sido erguido de nossas costas, prometíamos a nós mesmos que nos esqueceríamos de tudo e, talvez, um dia, até riríamos do que aconteceu.
Assistíamos televisão no quarto, ouvi um ruído vindo de fora. Tatiana segurou minha mão.
— O que foi isto, Afonso?
— Não sei — levantei-me, fui até a porta e a abri um pouco. Espiei, não vi nada, mas o ruído continuava, no quarto que havia sido do Luiz. Na ponta dos pés, caminhei até lá e entrei. O terror me dominou, absurdamente, incompreensivelmente, o quarto de Luiz estava todo reconstruído, os móveis, os brinquedos, a decoração, e, sentado no chão, estava um ser carbonizado, costuras na boca e a cabeça se equilibrando sobre o pescoço.
A criatura me fitou com olhos ensanguentados e murmurou por entre as costuras:
— Por que você não me deixa ir, papai?
Desde então, somos obrigados a conviver com esta aberração. Mantemos o quarto sempre fechado, fingimos não percebermos quando Luiz nos espia, ou passa correndo, derrubando algum objeto da sala. É difícil, mas somente assim conseguimos manter a sanidade e continuar nossas vidas.
Este é o nosso segredo, meu e de Tatiana, e, às vezes, me angustia a certeza de que Luiz só sossegará quando eu e ela também estivermos mortos. Somente assim, ele poderá partir.

Fonte: Fantasmas, Vampiros, Demônios e histórias de outros Monstros — Henry Alfred Bugalho — Oficina Editora, 2013.