No condomínio que morei, quando criança, existiam varias lendas de assombrações e cemitérios escondidos em baixo dos prédios, cada bloco tinha uma assombração de estimação, mas nenhum dos blocos superava o bloco 5, varias pessoas chegaram a se mudar dali para fugir das assombrações. Toda semana acontecia algo assombroso no bloco 5, quando a minha mãe (que era a sindica) precisava ir ao bloco 5, ela se benzia e rezava antes de colocar os pés naquele bloco, esse bloco era tão assombrado que ganhou o apelido de “Bloco Zé do Caixão”.
Eu e outras crianças do condomínio morríamos de vontade de ver uma assombração, algumas vezes agente ia brincar no bloco 5 só para ver se viamos algo, mas apesar de algumas janelas batendo sozinhas (e sem vento) e alguns barulhos estranhos, nós nunca tinhamos visto nada. Um dia decidi fazer um grupo para explorar o bloco 5 à noite. Convidei um amigo que convidou outro amigo, que convidou mais dois... no final das contas eram 15 crianças querendo passar a noite em claro na procura por assombrações. Nós decidimos fazer essa “expedição” (para quem era criança aquilo era um máximo da aventura) num final de semana, das 15 crianças apenas 5 tiveram coragem para enfrentar o desafio... Ficou combinado que iríamos pousar na casa do Marquinho e à noite iríamos sair de fininho (como a mãe do Marquinho tomava remédios para dormir e uma vez dormindo ela não acordava nem com um terremoto, iria ser fácil sair de fininho), ficou combinado também que cada um iria levar uns suprimentos para ajudar a passar a noite, quem não pudesse levar suprimentos teria que levar algo para ajudar na caçada ( lanterna, mochila, crucifixo, alho, estilingue...).
Como havíamos combinado, fomos passar a noite na casa do Marquinho, colocamos os pijamas e fingimos que fomos dormir, quando escutamos os roncos da mãe do Marquinho, agente trocou de roupa, pegou os suprimentos e saímos de fininho pela porta.
Estávamos todos excitados, era a primeira vez que a maioria ficava acordada após a meia noite. Cortamos caminho pelo bosque, sempre tomando cuidado para não sermos pegos pelo segurança (como ele vivia dormindo, não iria dar problemas)
A noite tudo fica mais assustador, apesar de felizes pela grande aventura, estávamos com tanto medo que ninguém se desgrudava do grupo. A parte mais assustadora foi entrar no bloco 5 depois da meia noite, ele já era macabro de dia, a noite ele ficava mais macabro ainda.
Pé por pé, devagarinho, iniciamos a explorar o bloco 5, começamos no térreo e pelas escadas nos fomos galgando andar por andar, até chegarmos no 6° andar, que era o último, dai decidimos descer andar por andar. Procurando em todos, subimos do térreo para o 6° andar diversas vezes, sempre à procura de assombrações e filmando tudo, tínhamos levado uma câmera, já que gravar um filme de um fantasma iria ser uma boa prova e uma boa oportunidade de aparecer na TV... Assim, tratamos de gravar tudo, mas depois começou a acabar a fita e a bateria, então desligamos a bendita filmadora e só ligaríamos de novo quando encontrássemos um fantasma.
Depois de 2 horas de buscas, bateu uma fominhaaaaa... Então, sentamos juntos nos degraus das escadas e montamos um piquenique ali mesmo. No final do piquenique, escutamos, nitidamente, um choro de criança. Todos se borraram de medo, apesar das penas estarem tremendo eu desci as escadas. Além de me arrastar nas pernas bambas, eu tive que arrastar os outros em pior estado e, mesmo apavorados, a nossa curiosidade era ainda maior. Assim, fomos até a origem do som, o andar térreo. Ligamos a filmadora e procuramos a assombração, então começamos a ouvir barulhos vindo do mesmo lugar, parecia dois bebês chorando. Andamos de um lado para o outro procurando a assombração, mas, o que acabamos por encontrar foi um casal de gatos namorando... Ah!... Foi um alivio... Depois ficamos com raiva e enxotamos os gatos que estavam no cio...
Já eram quase 5 da manhã e nada de assombração, espírito, fantasma, capeta, saci, mula sem cabeça, cuca... nadaaaaa, agente procurou, procurou muito e nada. Estávamos decepcionados e pensando em desistir da idéia de achar um fantasma, nos juntamos no 2° andar para decidir se ficavamos mais um pouco ou se íamos embora. Começamos a discutir se ficávamos ou não, quando, de repente, a nossa conversa foi interrompida por passos subindo as escadas, “Vixe Maria!” Tem gente vindo e vai nos ver...” (pensei comigo), ficamos mudos, morrendo de medo de ser o vigia e que ele nos dedurasse para nossos pais.
Para nossa surpresa era uma bonita menina da nossa idade que saiu do vão das escadas, ela era pálida, de cabelos longos e castanhos e usava uma camisola branca longa, que arrastava no chão, até ai tudo bem, não tinha nada de mais, ela foi para o outro lado do corredor e entrou em um dos apartamentos. Andava devagar e parecia nem ter nos notado. Mas, um detalhe estranhíssimo chamou-nos a atenção e deixou-nos arrepiados: ela entrou sem abrir a porta que estava fechada... Deus nos acuda!... Quando nós percebemos o que acabara de acontecer, bem às nossas vistas, bateu um terror avassalador, uma sensação medonha, e saímos voando dali direto para o apartamento do Marquinho. Passou o resto da noite sem dormir, com medo da assombração voltar, a maioria ficou uma ou duas semanas sem dormir e nenhum de nós ousou sequer pensar em passar perto do bloco 5 outra vez... A grande frustração foi não ter filmado a assombração.
Fonte: www.alemdaimaginação.org.com